quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O sentido da palavra

-Quero-te dizer uma coisa...
Fiquei nervosa e corada, senti as bochechas a queimarem. Será que ele descobriu que fui eu a lhe enviar a carta nos dias do namorado? O Dinis, o dinis. Era mais velho que eu. Andava já no 4º ano! Eu uma menina do 2º ano, não podia ter nenhuma hipotese.
- Responde-me.. Podemos ir para o baloiço?
- Sim podemos,é alguma coisa de mal?
- Talvez, mas acho que não.
Fomos os dois lado a lado, sem trocar uma palavra. Fiquei  no baloiço rosa (a minha cor preferida) e ele foi para o verde.
- O Miguel contou-me que as cartas que recebi ontem eram tuas, é verdade?
Balancei a cabeça em sinal afirmativo e comecei a fazer circulos na areia, com o pé.
- Então tenho uma coisa a dizer-te.
- É alguma coisa de mal? - ele não respondeu, e eu retomei a fazer a pergunta.
- Não. Eu gosto de ti, apesar de os meninos mais velhos dizerem que es mais nova.
Parei de fazer os circulos e olhei para os olhos dele. E ele deu-me um beijinho na cara. Dei-lhe a mão e ficamos assim. E assim ele tornou-se, o meu primeiro grande amor.



sábado, 19 de fevereiro de 2011

Paraiso real

M de Mulher, M de Majestosa, M de Mãe.
Cada vez te sinto mais, mais como uma cúmplice, não és apenas uma mãe que como é de esperar quer o melhor para a filha, sinto-te como um todo, como uma família. Percebi à pouco tempo o que nunca tinha entendido, estamos agora sozinhas, apenas as duas, mas podemos funcionar tão bem como uma família de 20 pessoas. Amo-te, amo-te desde que te chamava por "mamã" , tenho pena de ter perdido esse termo tão carinhoso, e tenho pena de não te tratar sempre com o amor e respeito que tu mereces. Mas é assim que a magia da vida funciona, nada é perfeito, e nós não fugimos à excepção.
Sei que temos desentendimentos fortes demais, mas isso é porque somos próximas, muitas pessoas até podem dizer que é mais do que deveria ser,mas eu não me importo, espero que tu também não.
Sei que à coisas que dizes da boca para fora assim como eu, temos que admitir. Somos as duas pessoas muito nervosas.
Adoro as tuas qualidades, mas ainda adoro mais os teus defeitos, porque são eles que te tornam na pessoa que és HOJE.
 



terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Mudança

O sorriso desvaneceu-se do rosto dela, porque descobriu, descobriu que a verdadeira felicidade, essa, apenas chegava no fim. Mas no fim de quê?
No fim, quando a verdade fosse desvendada.
No fim, quando toda a Humanidade volta-se a ser sincera.
No fim, quando as guerras deixassem de existir.
No fim, quando todos fossem socialmente e economicamente estáveis.
No fim, quando não houvesse maus tratos e roubos.
No fim, quando todos voltassem a confiar uns nos outros.
Mas esse fim, esse fim, afinal de contas, existe?
Espero que sim, para que a rapariga possa voltar a colocar no seu rosto, o tão proclamado sorriso.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O fundo preto

- Cala-te!
Fiquei surpreendido. Ela tinha ficado tanto tempo. Tanto tempo, assim quieta, enquanto eu me queixava e queixava. Queixava-me da minha miserável vida, mas isto, isto nunca tinha acontecido. Fiquei à espera que ela completa-se, mas ela calou-se. Ficou a contemplar o horizonte. Nunca percebi no que ela pensava, enquanto estava dentro deste carro.
- Vá, vá! Se tens alguma coisa a dizer-me, diz logo de uma vez!
Eu tinha gritado, mais uma vez, e mais uma vez, era impossível voltar a trás. Eu vi ela a encolher-se. Não isso não. A minha filha devia-me julgar um monstro. E depois notei as lágrimas a correrem-lhe pela cara. Que aconteceu? Olhei para a minha mão direita. Fiquei chocado. Novamente. Estava ela esticada a dez centímetros da cara da minha filha.
Sim já se começava a reparar, na marca vermelha da cara dela, que marcava uma mão, uma mão pesada.
- Patrícia, desculpa-me.
Ela acenou a cabeça. Parabéns, parabéns pela nova medalha. A medalha para o pai mais carinhoso e honesto e presente de todos.
Estava a pôr-se o sol. Era a parte do dia que eu mais gostava. Os tons alaranjados e amarelados, davam um tom lindo ao céu. Mas hoje, hoje havia qualquer coisa. Preto? Sim um preto que tinha aparecido. Um preto fora do lugar.
- E a tua mãe? Como está?
- Bem.
Ela respondeu prontamente como sempre faz. E mais uma vez ficamos naquilo. Eu sei. Fui eu que nunca lhe dei atenção, mas se nem sei tomar conta de mim, seria capaz de o fazer a uma filha?
Tínhamos chegado, e mais uma vez 30 minutos, passaram como se fossem 5.
-Adeus.
Não, espera.
- Patrícia, minha querida. Não te despedes do pai?
Ela inclinou-se mas eu não senti. Não senti os lábios dela, nem o amor. E depois afastou-se, via a ir-se embora, a minha menina, com os caracóis, os seus perfeitos caracóis ao sabor do vento.
Depois regressei a casa. E apercebi-me que estava a chorar. Não! Um homem não chora. Apressei-me e rapidamente estava dentro de casa. Não reparei se havia vizinhos à volta, nem reparei se o meu cão Oddie tinha comida. Apenas coloquei a música no mais alto volume e fui buscar o meu “medicamento”, o meu prazer, o meu esquecimento.

Valor

Nasce como a água na sua foz, corre com o vento veloz e imparável, acredita em ti e naquele que te é querido, canta com os pássaros com fé e vida, acorda como as flores deixando apenas o irreal para o mais profundos sonhos, pede conselhos ao sábio e iluminado sol, cria um estilo de vida como os gatos que apesar de terem as "sete vidas" aproveitam-na como apenas uma, e morre sentido-te realizado. Com certeza sentirão saudade de alguém que aproveitou tão bem a vida, de alguém que vive, não que sobrevive. 


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Renovar




Deixa-me respirar, deixa-me liberta-lo, deixa-me viver sem nunca mais me preocupar. Cabeça firme, postura.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Despedida

Saudades do teu toque, das tuas piadas, que na ignorância de criança não entendia, do teu olhar, dos teus cuidados, da tua cara de babado, quando olhavas para mim.
Lamento não te ter ido ver, àquele quarto em que as pessoas não te deviam de tratar com todo o respeito, e apenas como mais um "velho", onde te davam papas. Lamento não me ter realmente despedido de ti. E isso continua sempre a marcar-me, ao longo de todos os anos. Porque nunca me conformei de te ter perdido. Tinhas idade, mas era a idade que te dava a força, o conhecimento, a inteligência e o amor. E isso foi sempre, as qualidades que eu mais apreciei em ti.


As duas palavras

É inevitável, o olhar revela a verdade, foi por isso que na despedida nunca o usou para me encarar, veria a mentira espelhada. Muitas duvidas, poucas respostas, ignorância não é o que pretendo sentir, até a mais dolorosa das situações deve ser desvendada, e acredito que sempre, talvez hoje, talvez daqui a uns anos, tudo se saiba, tudo se descubra.